29 de março de 2013

Cap.IV - Nem só as galinhas andam doidas

 Inacreditável … Onde isto irá parar ?

Vem-me à memória, a recente visita a Portugal do cantor Justin Bieber, um canadiano de 19 anos, ídolo dos adolescentes.
De repente, deparo com uma notícia estranha. Crianças de 11, 12 anos, mochila às costas, um dúzia de euros no bolso e lá vão elas, calcorreando quilómetros atrás de uma ilusão, abrigadas numa qualquer tenda á volta de um concerto, e pior que tudo, SOZINHAS, que é como quem diz, em grupinhos de duvidosa sustentação e sem a companhia de uma pessoa adulta e responsável.
Não, ninguém me contou, eu vi …

Fiquei atordoado. Inimaginável…
Ainda hoje, por cá anda uma réstia de um malvado pesadelo que me persegue.
Desculpem-me o desabafo mas … ESTÁ TUDO DOIDO !!!...

Que as miúdas queiram ver um espetáculo, acho normal.
Que elas alimentem paixões por estes ídolos com pés de barro, até posso achar isso também normal.
Agora o que eu não acho normal, aliás acho até criminoso, os pais ou tutores, validarem e patrocinarem estas escapadelas, com crianças entregues à sua sorte, e sempre com aquele argumento bacoco que “têm que estar preparadas para a vida”. Aos 11 anos ? Santo Deus… enlouquecemos !!!...

Dizem-me que agora é assim, é o sinal dos novos tempos … Talvez seja, mas então não nos queixemos de crises nem de infortúnios, pois pelos vistos, a crise, antes de tudo, está bem dentro das nossas casas. Quando um país tem famílias em crise de valores, crise de bom senso, crise de autoridade e crise de orientação, então sim, é verdade, está mesmo em crise. Diria mais, está doente, muito doente…

De uma coisa eu tenho a certeza: para mim, esta crise de demissão de responsabilidades dos pais, é muito mais grave do que qualquer crise económica porque, no essencial, estamos a falar das crianças que amanhã serão, ou deveriam ser, o suporte moral do nosso país. Com franqueza, não acredito, nem acreditarão os pais conscientes, que esta seja a melhora forma de os preparar para a vida.
Talvez sejam até os pais destas meninas, os mesmos que andam pelas manifestações a batalhar outras crises, esquecendo-se que são cúmplices de uma outra crise interior bem mais nefasta que, essa sim, pode arruinar as suas próprias vidas e as suas consciências.

Aprendi na vida a nunca lançar pedras, porque os nossos telhados também são demasiado frágeis, mas tudo o que tenha a ver com a preparação dos nossos filhos para a vida, deixa-me um bocadinho inquieto, especialmente quando ultrapassa os limites do bom senso, como parece ser o caso. Acompanhemo-los ou confiemos-lhes companhias credíveis … pelo menos.

Claro que estas crianças são as menos culpadas. Digo mais, não têm mesmo qualquer culpa. E não me venham com histórias que estas idades estão já formatadas e preparadas para irem à conquista do mundo, assim sem rei nem roque. Todos sabemos que não…
Não são desejáveis excessivas amarras nem proteções, mas tudo tem um caminho e uma idade. Cada coisa no seu tempo, e estas “coisas” parecem-me demasiado precoces e perigosas. Até porque, quem outorga estas leviandades, seguramente é capaz de consentir coisas bem piores. Assim sendo, não só estão a trucidar os seus próprios filhos como, por contágio, acabam por destroçar também uma sociedade inteira.

Como diria a minha avó, este mundo está podre … Ou então é a idade que me está a apodrecer as ideias.
Talvez seja … Era melhor que assim fosse.
Pelo menos salvavam-se as crianças… 

19 de março de 2013

Cap.III - Dia do Pai, ou só de alguns Pais

Será que todos os pais merecem comemorar este dia ?
Sou dos que pensam que um pai não dever ser apenas o resultado de um episódio sexual gerador de um filho, mas sim um privilégio exclusivo de quem, responsavelmente, vive e sente todas as missões de um verdadeiro pai.
Recordo-me de uma imagem que aqui partilhei anteriormente, que dizia apenas isto: “Qualquer homem pode fazer um filho, mas nem todos merecem ser pais”. Se assim o pu
bliquei, assim o penso. Tudo se resume afinal a uma pequena diferença: ser pai, ou ser PAI.

Porque hoje é Dia do Pai, valerá a pena, não só homenagear todos os que preenchem, com nobreza, a sua árdua função, mas também confortar todos os filhos que gostariam de festejar este dia de uma forma mais entusiasta e sobretudo de uma forma mais afetiva, mas por qualquer razão, não sentem o brilho deste dia especial.
Conheço o significado dessas frustrações porque, também eu, enquanto filho, senti a mágoa de comemorar estes dias, sem chama, sem alegria e de coração apertado.
Já vivi os dois lados do problema: Ter um pai, mas quase nunca estar presente, e mais tarde, querer um Pai, mas já não poder estar presente. Não me perguntem o que é pior. Uma coisa, no entanto, eu agradeço ao meu pai: ter-me demonstrado como não se deve sê-lo. Isso, pelo menos, eu aprendi com ele.
Muito do que tento transmitir hoje aos meus filhos, é um pouco o inverso do que recebi. Se é bom, ou mau, o tempo o dirá, mas tenho esperança que a fórmula dê bons resultados.

Não é fácil ser PAI, nos dias de hoje. O mundo, fora das nossas portas, está perigoso, muito perigoso, e esse perigo acaba por se arrastar também para dentro das nossas casas e influenciar comportamentos. Por isso a nossa missão, assume-se cada vez mais complicada…
Nem sempre podemos educar como queremos, porque somos muitas vezes condicionados por este mundo que chamam de moderno. Temos que alcançar tudo com dedicação, com paixão, mas sobretudo com profundas convicções.

Pela minha parte, essas convicções levaram-me, desde o nascimento dos meus filhos, a assumir determinados princípios e preocupações que defenderei até à morte, mesmo que tenha naturais dúvidas e interrogações:

Criar filhos sensatos e tolerantes, sem presunção e arrogância…
Cultivar-lhes o esforço e a exigência e nunca o facilitismo ou o desperdício
Exercermos autoridade, mas sem autoritarismos…
Não satisfazer todas as vontades, mas demonstrar vontade de fazer coisas…
Privilegiar as referências e os bons exemplos como padrão de comportamento…
Tirar muito do nosso tempo, para partilhar com os filhos o mais tempo possível…
Incentivá-los na luta por objetivos de vida, e não a passividade à espera das coisas fáceis e boas da vida…
Fomentar uma atitude de respeito pelos outros, para serem também respeitados pela vida fora…
Dar à palavra Não, a mesma importância e expressividade que à palavra Sim…
Estimular o diálogo e a opinião, valorizando o saber falar e o saber ouvir…
Brincar, rir e chorar juntos, quanto mais melhor…
Estar presente em todos os momentos marcantes para eles, sejam bons ou menos bons…
Formar gente com valores, com regras e com afetos…
Vincar a faceta de pai, mas também de amigo e de confidente…
Em suma, educar na vida e para a vida…

Se falhei, ou continuarei a falhar? Claro que sim, como todos nós, e disso me penitenciarei sem vacilar, mas não será nunca por falta das tais convicções, e de amor a uma missão que assumi com felicidade.

Mas afinal quem é, ou como se define, o melhor PAI ? Isso não é muito importante, sabendo que cada um de nós acha sempre que tem o melhor pai do mundo. O mais importante mesmo, é que cada pai tenha a noção das suas responsabilidades e dê o melhor de si em prol do presente e futuro dos seus filhos. Todos erramos e os pais, naturalmente, não fogem à regra.
Continuo a pensar, no entanto, que um bom PAI é aquele que formar moralmente bem os seus filhos. Sendo moralmente bem formados, os filhos estarão também mais bem preparados para enfrentar todas as peripécias da vida. Esse é, seguramente, o nosso maior desafio.
Criando boas pessoas, naturalmente estamos também a criar futuros bons profissionais, bons companheiros e, certamente, futuros bons pais também.
Não me preocupa formar sabichões, mas sim sábios. Sábios para enfrentar todas as variantes da vida. A moral, seguramente está acima de todas as sabedorias. O resto vem por acréscimo.
Se participarmos ativamente e apaixonadamente nesta caminhada paternal, a nossa missão terá mais possibilidades de ser bem sucedida.

Uma mensagem especial de conforto para quem, como eu, já perdeu o seu PAI. A melhor forma de honrarem a sua memória, é usufruirem em cada dia, os bons valores que vos foram transmitidos.

Uma palavra final para todos os filhos.
Assusta-me o número cada vez maior de pais desprezados e arrumados num qualquer retiro. Eu sei que a sociedade está a perder diariamente muitos dos seus valores, mas deveis à vossa consciência, um justo tributo a quem vos trouxe ao mundo e vos ajudou a crescer, especialmente aos que deram tudo de si para vos acompanhar.
A gratidão e o reconhecimento, é a melhor forma de celebrar, hoje e todos os dias, o esforço e as provas de amor que os vossos pais vos dão, ou vos deram. Mas porque hoje é DIA DO PAI, aproveitem para dar um especial e sentido abraço ao vosso PAI.
Apesar de todos os meus lamentos que atrás referi, também eu gostava de dar um abraço ao meu…

FELIZ DIA DO PAI

15 de março de 2013

Cap.II - Não deixes nada por dizer

Não ter tempo, pode ser tarde demais.
Vem-me à memória um recente funeral onde estive presente.
Um filho, há muito afastado da convivência com o pai, contemplava o caixão à distância, sem no entanto, ter coragem para se aproximar. Soube, de permeio, que essa atitude se poderia dever a um profundo arrependimento por não ter, em vida, dito ao seu pai tudo o que sentia.
Era tarde …Tarde demais…
Por instantes, muitos instantes aliás, fiquei a meditar naquele quadro. Nada que todos nós não saibamos, mas da realidade à prática, por vezes vão longas distâncias.
Será que precisamos de ver alguém partir, para transmitir os nossos afetos e os sinais da nossa dedicação?
Infelizmente, parece que sim, e cada vez mais…

“Não deixes nada para dizer. Amanhã pode ser tarde”, disse eu cá para os meus botões.
Mas porque é que a nossa vida tem que ser como os outros querem e não como entendemos que deve ser? Será que é justo atirarmos todo o ónus das nossas fraquezas, para cima da sociedade em abstrato, quando nós próprios nos esquecemos de fazer a nossa parte, até mesmo as coisas mais simples?
É verdade que o nosso mundo está pejado de vidas demasiado intensas e ocupadas, onde já pouco espaço resta para nobres gestos de bondade e de carinho, até mesmo para os que mais amamos.

Muita correria, pouca paz…
Muita revolta, pouca tolerância…
Muita pressão profissional, pouco convívio familiar…
Muito comodismo, pouca coragem…
Muito individualismo, pouca união…
Muita presunção, pouca humildade…
Muita crítica, pouco elogio…
Muito capricho, pouco perdão…
Muita gritaria, pouco diálogo…
Muita razão, pouco coração
Muito TER, pouco SER…

Um magote de perigosas enfermidades, tomou conta de nós, sem que quase nos déssemos conta. É assim o mundo de hoje, o tal mundo que alguns chamam moderno.
Tanto se perdeu…
Um dócil mimo desinteressado, duas ternas palavras ao ouvido, um convincente e franco elogio, um deleitoso abraço, um gesto ou uma palavra de gratidão, tudo isto parece ter-se esvaído dos nossos melhores hábitos, deixando, quase de repente, de fazer parte do compêndio das coisas mais importantes da vida.
Se pensarmos bem que, também nós temos um prazo de validade e que um dia tudo se acaba, talvez ainda possamos ir a tempo de remediar os nossos comportamentos.
Pois é, é verdade, já me esquecia que nem sequer temos tempo para pensar nessas coisas. Mas o pior, é que dias virão, que nos vamos lamentar de não ter esse tempo. Poderemos então ter todo o tempo do mundo, pouco adiantará, porque já não temos tempo para dizer o que, em tempo útil, não soubemos, ou não quisemos dizer…
Casais deste universo, pais, filhos e irmãos, amigos verdadeiros, e tantos outros, deem cor e grandeza às vossas vidas.
Cada dia tem 1440 minutos. Se de todo este tempo, tirarmos 3 minutos, apenas 3 por dia, para doarmos uma gotinha de reconhecimento e carinho a quem amamos, então a nossa vida ficará mais rica e fará muito mais sentido.
Ficamos nós mais fortes, fica o nosso próximo mais forte, fica o mundo mais forte…

Que importa viver muito, se não vivermos bem?
Pessoalmente, continuo a acreditar que viver bem, é respeitar para ser respeitado, é fazer o bem, para o bem receber, especialmente aos que nos estimam e nos ajudam a honrar o caminho da vida. E é isto que eu quero deixar como herança aos meus filhos, como sendo, seguramente, o melhor suporte de preparação para a vida.
Acreditando nestes princípios, certamente continuarei a arranjar TEMPO para, hoje, sim hoje e não amanhã, nada mas mesmo nada deixar por dizer.
Uma simples palavra, ou um gesto espontâneo, valem bem mais que um valioso presente.

Sejamos lúcidos, mesmo antes do fatalismo.
Não esperemos por mais um funeral, para mudarmos o rumo do nosso pensamento…

11 de março de 2013

Cap.I - Felicidade na tragédia

BRINDEM COMIGO, ONDE QUER QUE ESTEJAM

Faz hoje, precisamente, 18 anos que desabou o meu mundo. Sim, esse mundo que nós julgamos ter aos nossos pés, e que nada de mal nos acontece quando estamos na flor da idade. Pura ilusão…
O coração, que tantas vezes foi meu aliado na minha relação com a vida, desta vez traiu-me. De repente, nada do que eu acreditava, fazia sentido. Durante 21 dias, a cama mórbida de um hospital, foi o meu abrigo de angústias e reflexões.
Mas não são essas más recordações que me levam a publicar este pedacinho da alma. Se é verdade que foram os dias mais consternados da minha vida, também é verdade que, tudo isto, germinou também um lado positivo, e é esse lado que eu, hoje, quero festejar e partilhar convosco.

Quero festejar a VIDA que, praticamente, esteve perdida…
Quero festejar a minha família que, embora carregando uma dor e uma cruz imprevista, soube ir buscar forças onde talvez desconhecesse tê-las…
Quero festejar a minha filha que, apenas com 6 meses, foi, não só a minha maior inspiração para voltar à vida, mas também ela própria uma lufada de surpreendentes reações…
Quero festejar os verdadeiros amigos, e eles sabem quem são, que também me alimentaram esse desejo de lutar contra o infortúnio…
Quero festejar o desejo, que de seguida nasceu, de erguer novos caminhos, novos projetos e novos objetivos….
Quero festejar Deus, um bom Amigo que me concedeu mais estes 18 anos de vida, ele lá saberá porque o fez…
 
Todas estas são razões de sobra para relembrar apenas o lado bom da tragédia. Só por isso, vale a pena tornar público este meu testemunho.
Sinto que devo também aproveitar esta data, para partilhar uma mensagem de esperança aos que vivem, ou poderão viver, situações semelhantes. O fatalismo da vida, chega apenas no dia em que a máquina pára definitivamente. Até lá, cumpre-nos o dever e a obrigação, de lutar sempre por ela.
Todos nós temos uma missão a cumprir, e dela não devemos desistir nunca. Esse é um desígnio irreversível e, seguramente, o maior desafio que é proposto ao ser humano.
É difícil? Claro que sim, mas nas vidas fáceis, não há heróis.
Nos momentos difíceis, tão pouco podem existir derrotados antecipadamente. E é nessas ocasiões, nas difíceis claro, que a dimensão do nosso carácter è posta à prova.
Saibamos aproveitar os piores momentos da vida, para conhecer os limites do nosso apego a essa mesma vida. Com coragem, com determinação, mas acima de tudo, com grande amor pelos que nos rodeiam e ajudam a viver…
A vida é uma dádiva tão curta, que a melhor forma de lhe manifestarmos a nossa gratidão, é disputarmos todos os segundos, até ao sufoco, como que de um jogo se tratasse, especialmente nos momentos mais ingratos e quando tudo parece perdido.
Da desgraça, pode nascer a luz.  Depois da tormenta, a minha vida mudou substancialmente, o que prova que podemos reconstruir o sentido da nossa existência e transformar a infelicidade em sucesso. Estes 18 anos foram a melhor prova disso, contando naturalmente com o apoio de muita gente a quem, eternamente, estarei grato.
Por tudo isto, claro que vou celebrar, porque qualquer data importante da vida, merece ser celebrada…
E esta é muito importante, talvez mais até que o próprio aniversário…
Sem ultrapassar uma, não viveria a outra … Nunca mais.

À VIDA…